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sexta-feira, 29 de julho de 2011

blue note - herbie hancock - cantaloop island

terça-feira, 12 de julho de 2011

Currículos...

          Ouço muitos conselhos sobre como conseguir trabalho. Dicas de currículos, como se portar numa entrevista, criar uma rede de relacionamentos e por aí vai. Tento seguir a maioria das orientações para sair desta nova temporada de ociosidade forçada, que já dura três meses e meio e não tem perspectivas rápidas de terminar logo. Uma delas é difícil de cumprir. É aquela que pede para citarmos os ganhos reais proporcionados pelo nosso trabalho às empresas pelas quais passei quase 30 anos de jornalismo.
          Sou do tempo que os diretores da área comercial raramente passavam pelas redações, especialmente, as de TV. A preocupação com audiência, com anunciantes, com faturamento, era deles e das nossas chefias. Para o chão de fábrica, digo, para os peões das redações, o foco estava em fazer um bom jornal. Se fosse assistido, ótimo. Se ninguém visse, ótimo também, desde que o salário fosse pago religiosamente em dia. Também não havia o jornalismo de entretenimento, de espetáculo, que faz com que os cabelos e as sobrancelhas da apresentadora chamem mais atenção do que a qualidade do jornal que ela produz. É claro que, se o Bonner  apresentar o JN de camisa aberta e de óculos escuros será um fato incomum, mas não foi para isso que meus colegas de profissão e eu gastamos anos nas faculdades para levar ao público. E mais: antes de entrar no ar, é obrigação do diretor de TV, do editor-chefe do jornal, perceber o que está errado com os apresentadores.
           Voltemos ao currículo. Um engenheiro pode mostrar que construiu x prédios ou um médico tem experiência de n atendimentos. Já o jornalista de redação, que não tem o hábito de arquivar as edições ou os scripts que fez (se tiver alguém que faça isso é uma grande exceção), não tem como dizer que foi responsável direto pelo aumento da audiência ou tiragem de determinado jornal. Não é um ponto quantificável. Qualquer inovação na TV é resultado de longas reuniões com diretores de vários departamentos. Você até pode dizer que descobriu aquele "furo", aquela notícia exclusiva. Só que não é um esforço solitário. Por isso, me incomoda quando os apresentadores são mostrados como estrelas, quando na verdade são a parte final de um trabalho que começa na véspera, envolve uma extensa cadeia de produção, esta sim a verdadeira estrela do jornal. O público em geral não sabe que o apresentador, com raras exceções, não editou as imagens que vão ao ar e tampouco escreveu o texto que leu.
         Trabalhei em praticamente todas as TVs abertas de SP.Sou fundador do Band News e do Leitura Dinâmica Primeira Edição, por exemplo. Editei programas líderes de horário como o Bom Dia São Paulo e outros que davam traço de audiência. Em todos, certamente, dei ganhos aos empregadores. Para começar, na maioria deles era mal pago e acumulava funções. Um profissional barato e eficiente é lucrativo para as empresas. Não sei como quantificar isso.
         Nesta terrível temporada de aposentadoria forçada por falta de serviço, passei por duas entrevistas. Uma delas foi antecipada por mim em um dia. Meus entrevistadores deram um chá de cadeira de mais de uma hora, sendo que eles tinham marcado o horário. Cheguei a ir para o trabalho. Faltando menos de um quilômetro para chegar ao local, fui avisado que tinha perdido a vaga por uma questão política. Meu concorrente tinha um padrinho mais forte. Na outra entrevista, que seria a realização de um sonho de trabalhar num lugar que todo jornalista esportivo sério pensa em ocupar, achei que a vaga também seria minha. Seria se tivesse um padrinho poderoso. Por isso, desconfio das empresas de recrutamento e dos anúncios de emprego. Podem ser bons para executivos ou professores, mas não funcionam para jornalistas.

domingo, 10 de julho de 2011

Meia-noite em SP

O domingo já está chegando ao fim. O frio, não. Continua gelado em São Paulo e, ao contrário do que é dito no ótimo Meia-Noite em Paris, do Woody Allen, a capital paulista não fica bonita, especial, linda nos dias de chuva. Paris não é Pari.
Descubro nas estatísticas do blog, que sou mais lido nos Estados Unidos do que no Brasil.  Tenho apenas 12 seguidores e a desvantagem de estar fora da mídia (mais de três meses sem trabalho - espero o fim desta situação nesta semana).  Só o Mano Menezes tem mais de um milhão de seguidores no Twitter. E olha que não conquistou nada com a medíocre seleção ameaçada de uma vergonhosa eliminação na primeira fase da Copa América. Ok, não dirijo nenhuma equipe, mal sei cuidar do meu apartamento. Mas o Mano é insosso nas coletivas, não tuita (quem faz isso é a filha dele) e não tem o menor pingo de humor que, modestamente, carrego nas minhas linhas.
Uma torcedora sãopaulina, velha colega de jornalismo, me cobra uma posição sobre o uso de dinheiro público na construção do estádio do Corinthians. Sou absolutamente contra, assim como sou contra qualquer marcha que paralise a Avenida Paulista, a vinda da Copa e da Olimpíada para o Brasil (será que precisamos mesmo de pretextos externos para consertar a infraestrutura defasada há séculos ou construir elefantes brancos como os estádios de Cuiabá, Manaus, Brasília, Natal, Recife???), o uso de cebola na alimentação humana, a permanência de Ricardo Teixeira como dirigente máximo da CBF; a falta de educação no trânsito, especialmente, em relação aos ciclistas; flanelinhas, manobristas na porta de restaurantes/bares a preço de refeição completa; leilões de joias, programas religiosos, Zorra Total e outras porcarias que grassam nas tevês. Também sou contra gasolina batizada, etanol a preço de destilado escocês, filas, caspa, bitucas de cigarros e chicletes jogados no chão, vizinhos metidos a DJs,gente ignorante,que não está nem aí, por exemplo, quando conversa alto no celular ou estaciona em vagas destinadas a idosos ou pessoas especiais.

MEIA-NOITE EM PARIS:  Quem for esperando abrir a boca para soltar gargalhadas no novo filme do Woody Allen, vai perder o tempo. Ele exige inteligência do espectador logo nos primeiros minutos, quando a câmera passeia por Paris ao som do clarinetista Sidney Bechet, que foi um dos muitos americanos que trocaram os Estados Unidos pela França. As piadas são  sutis demais e merecem, no máximo, um sorriso nos lábios. Owen Wilson, como alter ego do diretor-roteirista, está perfeito. A ideia de ser reconhecido como autor sério é antiga para Woody Allen, que foi massacrado em alguns filmes, Interiores, por exemplo, por ter a pretensão de ser um Bergmann novaiorquino. Em Meia-noite em Paris, Allen trabalha isso com o ideal de ser criticado por escritores do nível de uma Gertrude Stein ou Hemingway. Tem a história de viver numa época dourada. No caso, os anos 1920, em Paris. Cada uma deve ter a sua (a minha seria os anos 1960, em Londres, com Jimi Hendrix, Eric Clapton, os Beatles, os Rolling Stones fazendo a trilha sonora), mas claro que é um exercício impossível de ser realizado. O que é monótono e chato para, digamos a namorada de Picasso, Hemingway etc, interpretada pela belíssima Marion Coutillard, que gostaria de viver na virada dos séculos XIX para o XX, é espetacular para a  personagem de Wilson, que tem a oportunidade surreal de conviver com os grandes artistas, muito mais interessante do que encarar um casamento com uma mulher fútil, filha de pais reacionários. Neste ponto o filme remete à outra obra genial de Allen, A Rosa Púrpura do Cairo, também  um conflito entre realidade e sonho. Beno recomenda.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A loira passeia no Ibirapuera sem o celular

A primeira segunda-feira de julho foi uma prévia da primeira terça-feira de julho. Pelo menos para mim, aposentado por falta de trabalho. Sem nada para fazer, fui pedalar no Parque do Ibirapuera, um raro espaço da zona sul de São Paulo que ainda não foi devastado pela especulação  imobiliária. É sempre bom lembrar que o Ibira perdeu boa parte da área original.  Se alguma autoridade tivesse culhão, teria expulsado os moradores e destruído as mansões no entorno da avenida IV Centenário.
Feliz com o velho brinquedo novo, a bicicleta recém-saída da revisão, com guidom e câmbio novos, dei nove voltas por lá, o equivalente a 27 km. Somados à ida e à volta pra casa, foram 37 km sob um frio congelante de 9 graus, conforme os nada confiáveis relógios-termômetros de rua.
Algumas figuras conheço de vista. Uma delas é uma loira, entre 40 e 50 anos, que sempre me chamou a atenção não pela beleza, mas pelo fato de caminhar com o celular colado no ouvido. Não sei se é empresária ou jornalista. Só não sei como arruma assunto para tanta conversa. Levando-se em conta que cada volta pelo parque gira em torno de 15, 20 minutos, acredito que ela fica no telefone, no mínimo, uma hora. Porém, neste 4 de julho, dia da Independência dos EUA, de um filme com o mesmo nome protagonizado por Tom Cruise, e aniversário do amigo Alceu Nader, hoje morador de Brasília, o que me chamou a atenção é que a loira não estava pendurada no celular.
Hoje, não vi o senhor todo tatuado e com corpo malhado, que dá voltas no parque levando a bicicleta na mão. Nunca entendi porque  ele não pedala ou prende a bicicleta para poder andar livre, leve e solto. Em compensação, estavam os inúteis guardas civis  metropolitanos que nada fazem para orientar os pedestres, patinadores e skatistas a procurar outros caminhos que não sejam a ciclofaixa. Os próprios ciclistas também não colaboram, sejam os casais que saem em duplas ocupando as duas faixas, sejam os esportistas que ignoram as setas de mão e contramão que, apesar de serem bem sinalizadas no chão, são solenemente desrespeitadas. Não adianta reclamar. Povo burro é sempre povo burro.
Ainda dá tempo para ver a ótima exposição Héreros, do meu ex-colega de Equipe, Sérgio Guerra. Ela está no Museu Afro Brasil e é gratuita.
Depois das pedaladas, vi Manhattan Connection. Lá soube que o Diogo Mainardi também foi aluno do Equipe e era fascinado por uma professora de geografia. O assunto foi levantado depois que o Lucas Mendes contou o caso da professora pega com um aluno num motel fluminense. O aluno é um heroi, por realizar o sonho de todo estudante. Duvido que não existe algum que não teve uma fantasia com o/a professor/a. Uma das minhas maiores decepções foi encontrar uma antiga mestra do primário, casada e até com netos. Ela foi a minha primeira namorada e de muitos colegas, mas ela nunca soube disso. Tem também o episódio de Friends, que Ross confessa que teve um caso com a bibliotecária bem mais velha. É hilariante.