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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Tragédia na Sumaré - mais um ciclista é morto em SP

Antônio Bertolucci, ciciclista de 68 anos, presidente da  Lorenzetti, tradicional marca de chuveiros e duchas, morreu na manhã de dia 13 de junho, atropelado por um ônibus, na avenida Sumaré, perto da estação do mesmo nome, na zona oeste de São Paulo. Pelos relatos de testemunhas, ele teria caído da bicicleta e o motorista do ônibus, que devia estar colado, não pode evitar o choque. Se ele (motorista do ônibus) tivesse respeitado a distância de 1,5 m conforme determina o Código Nacional de Trânsito, a tragédia não teria acontecido.
O ciclista era experiente a ponto de ir de bicicleta ao trabalho, num percurso de 2h. Pela condição financeira, certamente, não precisaria disso. Poderia ir de carro com chofer, por exemplo, mas vá perguntar a qualquer ciclista, se ele prefere pegar congestionamento, um transporte coletivo lotado ou se gozar a liberdade proporcionada pela magrela.
Conheço o local do acidente. É uma praça, que era enfeitada por cataventos colocados como se fossem flores, próxima a uma rua movimentada que dá acesso à avenida Dr. Arnaldo e à rua Oscar Freire, no lado de Pinheiros. O ciclista vem de uma descida e pega um pequeno trecho de subida antes de embalar para a Sumaré no sentido do Viaduto Antártica.
Vejo os comentários no Facebook lamentando a morte do executivo e, mais incrível, culpando o comportamento dos ciclistas em geral. Para começar, a desproporção de tamanho, peso, segurança entre um ônibus e uma bicicleta é a mesma entre um lutador de Ultimate e um bebê. Concordo que a bicicleta não é a alternativa de transporte para a maioria da população, mas não deve ser descartada pelas qualidades inerentes - não polui, não gasta combustível fóssil (só na fabricação, embora já exista até bicicleta de bambu!), é barata, eficiente e mais rápida do que a maioria dos outros veículos usados nas grandes cidades. Prova disso é que os ciclistas sempre vencem os desafios modais realizados há anos na capital paulista e Barcelona, Bogotá, Paris, Rio, Berlim, Copenhague, Portland, entre outras, já se deram conta de que vale investir nas calois da vida.
As iniciativas da prefeitura e do governo do estado de São Paulo são tímidas. As autoridades e a maioria esmagadora das empresas pensam que a bicicleta ainda é um brinquedo. Esquecem das tarifas caras dos ônibus e do metrô, dos estacionamentos, dos impostos cobrados aos motoristas (pedágios, IPVA, seguro etc) e, é claro, do trânsito insuportável. Proibem a circulação nas estradas e as ciclofaixas são poucas, mal feitas e não são de uso permanente.
No último domingo (12 de junho), fiquei mais estressado com os colegas ciclistas que circulavam pela ciclofaixa que vinha da av. Jornalista Roberto Marinho até o Parque Villa-Lobos,  do que com os outros veículos. Falta educação (aliás, em praticamente todos os setores da sociedade brasileira). Vi um acidente estúpido entre dois ciclistas,  um deles com uma criança na cadeirinha. Vi pares fechando a passagem de quem vem mais rápido e não estava lá para simplesmente passear  (o meu caso, por exemplo, mas também de ciclistas de "speed"). Você assobia, buzina, canta ("Deixa eu passar, faz de conta que sou o primeiro...")  e nada do pessoal se tocar. Por sua vez, a turma da CET e os funcionários com as bandeiras nas mãos mais atrapalham do que ajudam. Além de não orientarem direito (quem estiver lento deveria ficar à direita - não é assim no trânsito normal ? -  ou à esquerda, se houver uma regra da prefeitura indicada por faixas ou coisas quetais), não sabem que o ciclista mais experiente fura mesmo o sinal vermelho se não estiver passando qualquer veículo.Para que vou esperar a chegada de um carro se a rua está deserta? Sem falar dos patinadores, skatistas e corredores que são incapazes de entender que a ciclofaixa é só para quem estiver em cima de uma bicicleta. A dica também vale para quem carrega a bicicleta na mão. Não está pedalando, cai fora, vai para a calçada, vai para onde não ocupar espaço na ciclovia. É uma situação corriqueira nas ciclovias dos Parques Ibirapuera e Villa-Lobos, onde os guardas metropolitanos não fazem absolutamente nada e os garis limpam as pistas quando não há menor necessidade.
Sei que pedalar nas ruas não é para qualquer um. O relevo paulistano não é amigável para quem está fora de forma ou tem um equipamento sem marchas. O espaço é disputado por motos, carros, ônibus, caminhões, carroceiros, pedestres e até por animais (não aqueles com CNH - experimente pedalar no calçadão do Anhangabaú, onde é grande o risco de ser atacado pelos cães dos moradores de rua ). O ciclista só precisa de uma distância de 1,5 m, no mínimo, para se sentir seguro. Fico assaz irritado (eufemismo para não falar um palavrão e chocar meus queridos leitores) com os motoristas ou motoqueiros como os da polícia,  que passam por você na sua bicicleta, e fecham a passagem da direita, como se estivessem competindo por um metro a mais e buscassem pontos num videogame imaginário. Também não entendo como um motorista de ônibus adora empurrar o ciclista para a guia, mesmo sabendo que só vai parar daqui a uns 500 metros.  São estas pequenas maldades que fizeram do sr. Antônio Bortolucci mais uma vítima da estupidez urbana.
Eu tenho uma proposta de punição para o motorista de ônibus que assassinou o executivo da Lorenzetti e dificilmente vai cumprir alguma pena na cadeia -  pedalar diariamente em avenidas movimentadas de São Paulo por seis meses. Tenho certeza absoluta que ele vai passar a respeitar quem está numa bicicleta.

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