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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Das pombas

Cena real ocorrida na sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011.
Local: um sobrado na divisa de Osasco com São Paulo, mas poderia ser a Califórnia de um filme de Hitchcock.
Tudo começou quando uma pacata dona de casa enfurecida com o fato do telhado ter virado pombal, decidiu acabar com os visitantes. Espalhou chumbinho e, num átimo de esperteza, deixou a porta da cozinha aberta. Foi a vingança columbófila. Meio doidão, um bando de pombos invadiu a casa quando a patroa passava roupas aparentemente feliz com o estratagema. Apavorada, subiu na mesa. Alguns dos convidados voaram para o andar de cima. Outros, talvez esperando que a patroa passasse um café, se empoleiraram no pau da cortina, que deixou de ser branca no final da história.
Enquanto isso, o amigo da dona do sobrado ia célere para a residência, quando viu que estava sem etanol no tanque. Parou num posto, que por causa do preço atraente, já não dispunha do combustível. Para não ficar na mão, o motorista seguiu viagem para a distante divisa, colocando gasolina a preço de dose de whisky escocês. Até reconheceu o simpático Massimo Ferrari, ex-restauranteur da Alameda Santos, com quem trocou breves palavras. Precavido, o amigo parou num posto, que tinha um etanol a preço convidativo, que por isso mesmo atraia outros motoristas. Resultado: uns quinze minutos de fila. Neste interim, a amiga implorava a presença urgente do camarada. Etanol no tanque, ele seguiu rápido feito ponta-direita das antigas.
Não acreditou no que viu: a Tippi Hendren de Osasco chorava copiosamente, enquanto os pombos (ou seriam as pombas?) estavam literalmente cagando e voando pela situação. Num momento digno de Hitchcock, mais parecendo o Woody Allen às voltas com a lagosta de Annie Hall (nome original da legendária titulação brasileira de Noiva Nervosa, Noivo Neurótico), o amigo, agora cavaleiro digno de Monty Python em busca do Cálice Sagrado, pegou um rodo e atacou os bichinhos. Que saiam e voltavam para o mesmo lugar. O medo de uma ameaça de um contragolpe fez mudá-lo de tática.
Inconformado, liguei (assumo, era eu mesmo) para a Zoonoses de Osasco. Eram 17h30 e a repartição só funciona até às 17h. Disquei para a prefeitura, que avisou para ligar novamente na segunda-feira, diretamente com a Zoonoses. Ótimo, a dona da casa conviveria mais três dias com os pássaros, o suficiente para enfartá-la em horas. É claro que não aceitamos a solução proposta. Tentei a Defesa Civil, que é boa em enchente, incêndio, demolição, mas incapaz de resolver a questão. Fui para os bombeiros, bons em salvar gatinhos em árvores, posar para calendários e roubar a Luma de Oliveira das mãos do Eike Batista. O atendente foi certeiro. Mando deixar todas as janelas e portas abertas e esperar. Uma hora os visitantes indesejáveis feitos sogra e cunhado iriam embora.
Beleza, vamos esperar. Meia hora e nada. Parti para a ignorância que nem o Domingos da Portuguesa ou beque argentino contra jogador brasileiro. Fui atrás dos bichos que estavam no andar de cima. Um saiu voando e foi embora. Outro se escondeu num armário como Ricardão, mas também botei pra correr. Quando desci, os dois que estavam no puleiro, cansaram de aguardar o café e se mandaram à francesa.
Ganhei a batalha? Não. Cheguei até a comemorar a sala como território livre dos pombos, mas para minha surpresa, sobrou um. De nada adiantou dar umas rodadas no verme.  Sim, pombos são uma espécie de vermes, maldito seja aquele que declarou que eram símbolos da paz. Ele nunca conviveu com uma gang de pássaros cagões dentro de casa. Cansado de apanhar, o pombo foi andando calmamente até a porta e nem se despediu. Era final de tarde, o que seria o fim de expediente para ele, que voou para rumo ignorado.
Depois de horas de pânico, piores do que conviver com Robert De Niro em Cabo do Medo, a dona da casa, com grande dificuldade, se recompôs, pegou as malas e foi para a praia.
Sábado de sol e pagode no litoral sul, calor de antecipar a menopausa em vinte anos, cerveja na mão, ela olha para os lados e começa a suar frio. Aparecem uma, duas, várias pombas ao redor. Parecem conversar como se fossem de uma rede de facebook só para  pássaros. Claramente cochichavam: ''aquela é a maluca que tentou matou os manos de Osasco. Isso não vai ficar barato". Mas, parece que erraram o alvo e atacaram o Centro de Treinamento do Corinthians...

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